As narrativas foram um dos conteúdos abordados neste mês.
Os alunos tiveram contato com a Crônica "Piscina" de Fernando Sabino.
Para quem não conhece eis aqui:
Piscina
Era uma esplêndida residência, na Lagoa Rodrigo de Freitas, cercada de jardins e, tendo ao lado, uma bela piscina. Pena que a favela, com seus barracos grotescos se alastrando pela encosta do morro, comprometesse tanto a paisagem.
Diariamente desfilavam diante do portão aquelas mulheres silenciosas e magras, lata d’ água na cabeça. De vez em quando surgia sobre a grade a carinha de uma criança, olhos grandes e atentos, espiando o jardim. Outras vezes eram as próprias mulheres que se detinham e ficavam olhando.
Naquela manhã de sábado ele tomava se gim-tônico no terraço, e a mulher um banho de sol, estirada de maiô à beira da piscina, quando perceberam que alguém os observava pelo portão entreaberto.
Era um ser encardido, cujos trapos em forma de saia não bastavam para defini-la como mulher. Segurava uma lata na mão, e estava parada, à espreita, silenciosa como um bicho. Por um instante as duas mulheres se olharam, separadas pela piscina.
De súbito pareceu à dona de casa que a estranha criatura se esgueirava, portão adentro, sem tirar dela os olhos. Ergue-se um pouco, apoiando-se no cotovelo, e viu com terror que ela se aproximava lentamente: já atingia a piscina, agachava-se junto à borda de azulejos, sempre a olhá-la, em desafio, e agora colhia água com a lata. Depois, sem uma palavra, iniciou uma cautelosa retirada, meio de lado, equilibrando a lata na cabeça – e em pouco sumia-se pelo portão.
Lá no terraço o marido, fascinado, assistiu a toda acena. Não durou mais de um ou dois minutos, mas lhe pareceu sinistra como os instantes tensos de silêncio e de paz que antecedem um combate.
Não teve dúvida: na semana seguinte vendeu a casa.
Fernando Sabino
- Pedi então que fizessem a seguinte produção:
1. Imagine a seguinte situação: a dona da mansão, assustada, telefona a uma amiga contando-lhe o que aconteceu. Como seria essa conversa? Qual seria o diálogo entre elas?
- Amiga você não sabe o que me aconteceu?
- Me conte que eu quero saber!
- Entrou uma mulher aqui e pegou água da piscina para o uso não me perguntou nada.
- Nossa! Essa mulher é pirada ou é muito ingenua. ( Larissa Rodriguês)
- Alô!
- oi!
- Amiga adivinha o que aconteceu?
- O quê? Conta logo!
- Uma louca favelada entrou na minha casa sem falar nada e pegou água da piscina!
- Sério?
- Seríssimo!
- Putzs, essa daí e louca mesmo.
- Vem aqui em casa pra eu te contar tudo?
- Esta bem, irei o mais rápido possível! ( Ingrid Oliveira)
2. Imagine, agora, esta outra situação: a mulher da favela, com a lata d'água na cabeça, chega ao barraco onde mora e conta para uma vizinha o que aconteceu. Como seria essa conversa? Qual seria o diálogo entre as duas?
- Dona Neusa eu fico pensando uns com tanto e outros com nada.
- Mais Porque?
- Eu vi um povo rico com um rio cheio d'água e eu aqui precisando de uma lata d'água Então eu entrei lá e peguei água.
- Ocê tinha que fazer isso mesmo, pra eles aprenderem a dividi. ( Larissa Rodriguês)
- Oh cumade, adivinha? Eu vi uma doida banhano na nossa água de bebe.
- Deus que me livre.
- Tanta pessoa precisando de água e essa loca banhando no bem bom com nossa água.
-To te falando! ( Ingrid Oliveira)
Achei criativo os diálogos criados pelas alunas. Parabéns!!!